Migala en O´Globo de Brasil

Migala ha sido protagonista de la columna diaria de Arthur Dapieve, columnistas de O Globo, posiblemente el periódico más famoso de Brasil.

Este es su artículo:

«O maior prazer do crítico ou jornalista ligado à música não é falar mal do que todo mundo gosta ou elogiar coisas que ninguém conhece. Seu grande barato é reformular os termos da anedota: escrever sobre um disco ou uma banda que ninguém conhece para que todo mundo passe a gostar. Solidariamente, como quem troca figurinhas, como o acólito de uma nova religião. Nesse papel, já espalhei a palavra sobre o Cake ou o Gomez. Hoje, quero falar da melhor banda que eu conheci no ano passado: a espanhola Migala. Sua música é de uma integridade colossal, embora nutra-se de fragmentos.

Cheguei a ela graças a um amigo, Carlos Marcelo, jornalista do “Correio Braziliense”, autor, com o fotógrafo Anderson Schneider, do livro “Cantos de concreto — A Brasília de Renato Russo”, a sair pela Casa da Palavra. Bem, quando ele recomenda, eu escuto atento. Foi assim com os Red House Painters, banda de Mark Kozelek, um dos membros da fictícia Stillwater, do filme “Quase famosos”. Então, Carlos Marcelo não apenas escreveu maravilhas sobre a Migala como ainda mandou-me uma cópia de “Arde”, o CD mais recente, lançado originalmente pelo selo Acuarela e, nos EUA, distribuído pelo mítico Sub Pop, de Seattle, aquele pelo qual o Nirvana gravou seu primeiro disco.

A Migala não tem nada a ver com a banda de Kurt Cobain, aquele cara que morreu por nossos pecados, exceto o ardor com que reinventa a pólvora. Abel Hernández (voz e guitarra), Rodrigo Hernández (baixo, teclados, efeitos), Coque Yturriaga (teclados, ruídos), Diego Yturriaga (acordeão, Casiotone, voz), Rubén Moreno (bateria, percussão, violino), Jordi Sancho (teclados, Rhodes, baixo) e Nacho Vegas (guitarra), membros da formação atual da trupe madrilena, não se alinham com os roqueiros que agem como se a revolução eletrônica nunca tivesse acontecido. Nesse sentido, são pós-rock. Contudo, a eletrônica dá uns toques, não as cartas. As referências maiores do letrista (em inglês e em espanhol) Abel & Cia continuam sendo Leonard Cohen e o Velvet Underground. Alegres assim.

O que os diferencia é o componente latino. Se você acha o Mogwai muito cerebral, a Migala é apaixonada. Seus três álbuns vão se tornando melhores conforme os toques hispânicos — do idioma às cordas — vão ficando mais evidentes, acentuando o senso dramático. O primeiro CD foi “Diciembre 3 a.m.”, de 1997. Citações vertiginosas. Versões para: “Anarchy in the UK” (transformada em “Sweet anarchy”), dos Sex Pistols; “Fade into you”, do Mazzy Star; e “Moon river”, de Henry Mancini & Johnny Mercer. Samplers de Beastie Boys (em “Kerouac”) e do filme “Stranger than paradise”, de Jim Jarmusch (em “Isabella afterhours”). Texto de Cortázar (“El preámbulo a las instrucciones para dar cuerda a un reloj”) em “Cortázar”. Um poema de Yeats (“An Irish airman”). E belezas originais como “That woman” (“Eu posso tentar viver como um/ Mas eu quero aquela mulher”).

Em 1998 saiu “Así duele un verano”, mais conciso tanto em duração quanto em proposta estética. Era um CD litorâneo, à moda da Migala, claro: fim de estação, baleias metafóricas, barcos que não voltam ao porto, despedidas, tristeza não tem fim. As letras, na época todas em inglês, mais faladas que cantadas, cutucavam feridas emocionais. Como no caso da ótima “Gurb song”, um casal tentando se acertar em meio a mais referências: “Escutamos Nick Drake em seu gravador e ela me disse que era escritora (…) Meu ego e o seu cinismo deram-se muito bem e nós podíamos dizer ‘O que você faria se eu morresse?’ ou ‘E se eu tivesse Aids?’ ou ‘Você não gosta dos Smiths?’.” Como em “Unlost memory”: “Esta cidade do Oeste/Tão longe de casa mas/Em frente à minha densa memória.”

Lançado no finzinho de 2000, “Arde” é, ao menos até o momento, a obra-prima da banda que tirou seu nome de uma espécie de aranha gigante sul-americana, gênero aviculária, que captura passarinhos em suas teias. O CD já se dividia entre o inglês e o espanhol e parecia ter sido pensado para funcionar como a trilha sonora de um imaginário “Madrid, Texas”. Os títulos das músicas compõem, por si sós, um painel de desalento e solidão: “Times of disaster”, “Primer tren de la mañana”, “La noche”, “The guilt”. Entre todas, “Suburbian empty movie theatre” é a pequena (menos de três minutos) grande maravilha. A voz cresce do murmúrio ao épico, sucessivamente sustentada por um violãozinho quase mariachi, um acordeão melancólico, um violoncelo emocionante. Por conta da conexão Sub Pop, a Migala () estará excursionando de 28 de fevereiro a 11 de março pelos EUA. Pena que a Acuarela Discos ainda não tenha representante no Brasil, país burramente avesso a latinidades.

Isso é tanto mais idiota quando penso que a segunda melhor banda que conheci no ano passado também era espanhola: a Jarabe de Palo, mais pop, que lançou um CD perfeito, “De vuelta y vuelta” (Virgin de lá). Aliás, a terceira também não canta em inglês: é a Sigur Rós, islandesa. Talvez seja uma tendência: em busca de ar fresco para sobreviver, o rock procura novas plagas, novos sotaques, come pelas beiradas. Até na Grã-Bretanha os grupos mais interessantes não são ingleses, mas escoceses (Mogwai, Travis, Beta Band, Belle & Sebastian, Looper) ou galeses (Manic Street Preachers, Catatonia, Super Furry Animals). A Migala tem tudo a ver com esse mundo pop contra-globalizado.»

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